sábado, 24 de julho de 2010

Um pedaço de nada


Sentei-me lá fora nos degraus durante muito tempo. O frio do mármore atravessava-me a roupa e senti muito frio... E no entanto, uma lua enorme, muito branca, muito brilhante, emoldurava o céu. Esta é aparentemente uma noite igual a todas as noites... A calma e o silêncio pesam-me como chumbo e sei que esta noite não dormirei. Porque esta noite não é igual às outras. Esta noite venho despedir-me. Venho fechar esta porta sobre mim, sobre as minhas emoções mais secretas, mais doídas e mais felizes... Gosto deste espaço, gosto muito. Gosto do título... Um Rasto de Perfume... O rasto do teu perfume. Do perfume da tua pele. Do teu cabelo acabado de lavar. Do tabaco nas pontas dos teus dedos. Do suor no fim do amor. Do sexo feito com saudade e loucura. Tantos perfumes... Sei-os de cor, os teus perfumes. Estão na minha memória e dentro de mim.
Fecho esta porta com uma tristeza infinita... E sinto-me um caco de vidro partido... um grão de areia... um pedaço de nada.