domingo, 31 de janeiro de 2010

Abraço-te

Hoje seria o teu aniversário se ainda estivesses connosco. Não quero esquecer-me nunca, enquanto viver, do dia em que fazias anos. Estavas sempre feliz neste dia... tão feliz! Dizias que a estrada estava a ficar cada vez mais pequenina mas que enquanto caminhasses, seria com sorrisos. E abraçavas-me muito. Tenho tantas saudades do teu abraço... Até dói, sabes? Acho que não há um dia em que não me lembre de ti, e já se passaram tantos anos... Tenho que fazer contas... Não conheceste o meu filho. Foi há muito tempo. Hoje também não me conhecerias se pudesses ver-me...
Quem foi que disse que o tempo apaga a dor?
Quem foi que disse que vai doendo menos, cada vez menos, até que é só uma saudade triste, que não magoa?
Quem foi que disse?

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

...

Apetecia-me tanto escrever... E no entanto estou tão cansada que as mãos não me obedecem... nem o pensamento. Trabalhei bem, trabalhei muito... E o powerpoint está quase pronto, do jeito que eu gosto. Claro, completo, quase perfeito. Amanhã acabo-o. Agora preciso de terminar o dia... Tinha saudades de vir aqui. Não sei porquê. Talvez porque sei que aqui me ouves, que aqui me procuras. Sinto-me estranhamente calma. Talvez do cansaço, não sei. Arrumei a mesa onde trabalhava e enquanto empilhava livros e rasgava folhas, sorria... A mesa onde te pedi para me amares está agora pronta e posta para o pequeno almoço. Nada me roubará os sorrisos da memória, nada. Tenho as mãos vazias... deitei fora as pedras, a mágoa e toda a tristeza que carregava. Tinha tantas coisas para te dizer! Ficarão no meu peito, ao lado dos sorrisos... porque eu só guardo as coisas boas... Vou descansar...
Porque a vida recomeça amanhã.

domingo, 10 de janeiro de 2010

No limite

A dor de cabeça não cede. Hoje é o quarto dia. Deito-me e levanto-me com ela, atormenta-me durante todo o dia, parece fazer já parte de mim. Impede-me de pensar. Rouba-me a energia. Não aguento a pressão sobre os olhos, a dor fina, aguda, que me rói a cervical. Dentro de mim, algo parece bater continuamente, como um eco de um tambor longínquo. Gostava de dormir. Gostava de me deitar e não acordar mais.
Que Deus me perdoe.

sábado, 9 de janeiro de 2010


quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

É como cegar de repente. O escuro. O frio. O vazio. A dor. O desespero. O mundo parece ter parado de girar, a minha respiração suspensa por um fio. As vozes dos outros chegam-me de longe, como ecos distantes. A sensação estranha de estar a viver um filme onde eu não entro, onde a vida não é a minha... Tu sabes que eu não te perdoo. Nunca te perdoarei. Intimamente, tu sabes que a nossa vida jaz espalhada pelo chão, partida em mil e um pedaços... Tu sabes o que o meu corpo significa para mim. É a única coisa que possuo de verdadeiramente meu, que eu entrego só a quem eu quero, só a quem eu amo. O amor não se pede, não se exige... e no entanto exigiste-o, o meu corpo que eu não te queria dar. Tomaste-o pela força, contra a minha vontade, o meu sentir, a minha ausência de desejo de ti, só porque és maior e mais forte do que eu. E no fim acho que o percebeste, o meu nojo de ti. A minha raiva. Não, não te perdoo...
Esta noite em que não dormi, decidi uma série de coisas. Amanhã quando chegares, não estarei nesta casa, não dormirei aqui. Encontrarás o meu lugar vazio, como o meu coração. E não irei às aulas, preciso do dia para pensar, para estar sozinha. Não sei o que vou fazer, por onde vou andar, sei que vou deixar os miúdos na escola e seguir sem destino até onde o carro me levar... Não quero saber onde. Vou.
Foi difícil, o dia de hoje. Trabalhei oito horas, falei com pessoas, conversei, numa espécie de sonambulismo, como um fantasma, um corpo vazio de alma... Preciso de regressar a mim. O mais rápido possível. Preciso de chão. E de norte.
E não te preocupes, não quero nada de ti. Sossega. Traz todos os papéis que quiseres, eu assino.
O do divórcio também. Especialmente esse, eu assino.