domingo, 22 de fevereiro de 2009

Acho que vim aqui só para me despedir.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Até Amanhã


E quando me olhaste fundo e me perguntaste se eu tinha estado a chorar, eu encolhi-me sufocada, subitamente envergonhada como se me tivesses despido a alma à mesa do café. Senti quase raiva por ser tão transparente aos teus olhos... por leres em mim ao primeiro olhar. Disfarcei a inquietude, engoli os nervos com mais um cigarro e esqueci-me até de te perguntar a que horas queres que te vá buscar amanhã.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

À noite fico contigo


Hoje preciso de conversar. Neste silêncio suave, posso ficar contigo, aninhar-me no teu abraço e soltar as palavras. Porque à noite fico sempre contigo. Antes do dia terminar, é sempre à tua memória que me encosto, nesta solidão calma que me apazigua. Há tanta coisa que queria dizer-te e que tu não quiseste ouvir... E no entanto, eu precisava de te dizer... que nunca te quis ferir, que lamento ter-te decepcionado, que não devia ter pedido o tempo que tu nunca poderias dar-me. E agora tenho-o, tenho todo o tempo do mundo... Mas... sabes, esse tempo não tinha um nome nem um rosto como tu julgaste. Esse tempo que eu te pedi era só meu. Há alturas na vida em que temos de atravessar sozinhos os nossos próprios desertos só para descobrir lá longe os oásis verdes... Temos de escalar as nossas montanhas para ver o sol nascer para lá das alturas... Temos de voar contra o vento para fortalecer as asas e ajustar as rotas... Foi isso que eu te pedi. Apenas isso. Mas tu tinhas razão... nada justifica que se faça sofrer quem amamos e eu pedi-te a única coisa que te era impossível fazer. Desculpa.
Algum tempo passou já... e não tem sido fácil, tal como tu desejaste. Mas no meu coração há finalmente quietude e aceitação. Olho de frente esta nova vida que tenho que viver e respiro fundo... Reuni toda a coragem que encontrei e decidi vivê-la o melhor possível. Quando olho para trás vejo que contruímos castelos de areia à beira-mar, que as ondas acabaram por destruir. Durante muito tempo fomos reconstruindo, incansavelmente, mas há sempre uma onda mais forte que acaba por levar tudo embora. É chegado o momento, como tu dizes, de parar de sonhar. A palavra Fim foi pronunciada vezes de mais e de cada vez a dor era mais forte, mais intensa, mais impiedosa. E basta de dor.
Tenho que começar por algum lado e decidi começar pela nossa casa... aquela que me pediste para construir, que eu ergui cheia de felicidade e esperança... e que agora está vazia. Dói-me horrivelmente lá entrar, sinto um aperto no peito... as lágrimas correm... Não sei explicar-te, é um sonho arrasado... entendes? Por isso, amanhã vou destruí-la para sempre... aquele cantinho era nosso, só nosso, e não faz sentido eu ficar lá sozinha. Queria que soubesses isto.
Vou devolver-te a tranquilidade que te roubei durante todo este tempo... tu precisas dela mais do que nunca. Sei que nunca nos esqueceremos, nunca! O teu amor na minha vida foi uma estrela cadente que deixou os céus mais brilhantes e iluminados... como poderia eu alguma vez esquecer-te?
Quando chegámos um ao outro, éramos pessoas diferentes... Hoje eu sou uma pessoa melhor, tu mostraste-me que há emoções que chegam sem avisar, que são imbatíveis e nos dominam por completo... nos matam o querer e a vontade... nos deixam frágeis e indefesos... Contigo foi quase tudo bom... e forte, mais forte do que os deuses, do que os tempos, e do que as distâncias.
Vou guardar-te sempre... e à noite, quando as estrelas estiverem azuis, eu fico contigo.
Amo-te muito... sabias?

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Dar tempo ao Tempo


Li nos livros como vai ser. Agora já sei e posso contar-te o que descobri.
Dizem que no início dói muito... a vida é um vazio terrível... um buraco enorme, escuro e gelado. A pessoa que amamos é o nosso primeiro pensamento e o último, antes do sono nos libertar deste inferno de desespero. Recordámo-la todos os minutos do dia, como uma obsessão que nos enlouquece... Perdemos o apetite... Acordamos várias vezes durante a noite e temos dificuldade em voltar a adormecer. Não conseguimos libertar-nos e nada nos dá alegria ou prazer... nada nos interessa. No princípio é assim. Dizem os livros.
Depois, os dias passam e a certa altura apercebemo-nos que começamos a evocar o outro cada vez mais tarde. Primeiro ao almoço... depois ao fim da tarde... finalmente só antes de dormir. Andamos menos tristes e já conseguimos sorrir, falar com o mundo, concentrar-nos nas tarefas quotidianas e rotineiras.
Tempos depois descobrimos que já não é todos os dias que nos lembramos da pessoa que perdemos. Apenas algumas vezes durante a semana, mas são memórias fugazes, a propósito de acontecimentos externos: uma palavra dita do mesmo modo, um sorriso semelhante, uma peça de roupa parecida... uma música que escutamos de repente. Algo nos traz o outro de volta mas já não dói como doía... é só uma saudade agitada que sacudimos com nervosismo e conseguimos mandar embora. Nesta altura teremos compreendido que é inútil continuar a perseguir sonhos e teremos desistido de lutar.
Vem depois, naturalmente, a última parte: relembramos a pessoa que amámos tanto porque é Natal... porque é Páscoa... porque hoje é o seu aniversário... porque foi nessa data que nos amámos pela primeira vez. E a memória vem, fica um bocadinho abraçada a essa lembrança já esbatida, quase perdida... e vai embora sem nos tirar o chão ou nos fazer perder o equilíbrio. Nesta fase estaremos curados e já não haverá amor no nosso peito. O Tempo terá levado tudo embora, as coisas boas e as coisas más... até a saudade. Os livros dizem que é assim.
Devia ser disto que tu me falavas... devia ser isto que tu me querias dizer quando defendias o Tempo... Quando dizias que o Tempo cura a dor e deixa lugares vazios no coração.
Sossego pois. Parece fácil e vou esperar que tenhas razão. Vou esperar o dia em que queira recordar este amor e não consiga porque o Tempo o dissipou, o roubou de mim para sempre.
Mas... sabes, quando esse dia chegar, eu serei menos feliz... Eu serei pouco diferente das feras enjauladas que desistem de lutar pela liberdade e resignadas, ficam de olhos vazios e parados à espera de uma morte qualquer e que sem o saberem, de algum modo já estão mortas. Porque se resignaram.
Estão mortas desde que resignadas, desistiram e decidiram dar tempo ao Tempo.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Os teus dedos



Nunca compreendeste o meu fascínio pelos teus dedos, pois não? E no entanto é tão simples... É que sabes... os dedos são o olhar da pele... entendes?
E eu gostava dos teus dedos longos e macios, despidos de ornamentos... com as unhas roídas até ao sabugo... com a pele dos indicadores queimada por tantos cigarros... Gostava dos teus dedos quando me acariciavam a face, quando me afastavam o cabelo do rosto... ou caminhavam com doçura na pele do meu corpo... Quando se tornavam mensageiros da tua boca e os enterravas em mim... e depois os provavas sentindo-me o gosto... quando os molhavas na tua boca e depois os fazias dançar com a pele dos meus seios... Gostava dos teus dedos entrelaçados nos meus, sentindo... partilhando emoções e mistérios de silêncio...
Talvez agora possas entender por que razão os meus dedos ainda guardam segredos dos teus, quando me navegavam e me despiam de saudade...

Soltar amarras

Não tenho medo de naufragar. Faço-me ao mar, agora sozinha... e neste barco levo apenas as memórias felizes de tudo o que fomos juntos. Valeu a pena... sabes porquê? Nenhum sal deste imenso oceano da vida apagará o gosto doce da tua boca... frio nenhum arrefecerá o calor que o teu abraço deixou em mim... e recordarei a tua voz para além de todos os vendavais. Porque se não há amores perfeitos, há pelo menos sentimentos únicos, verdadeiramente inesquecíveis e insubstituíveis. Mesmo os mais improváveis.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Depois de ti

Hoje mandaste-me embora pela última vez. Não voltarei. Não voltarei nunca mais a ti, deixo-te espaço livre para respirares com serenidade, para me esqueceres a mim e a este amor que consideras um erro que nunca deveria ter acontecido. E eu apanho todos os cacos do chão e não sei o que hei-de fazer com esta dor que me atravessa neste momento.
Amanhã mudarei este espaço, arrumarei o teu lugar agora vazio e passarei a estar para sempre, a sós comigo.