Finalmente o silêncio. Apenas os sons da noite, tranquilos e rotineiros... Hoje termina agora, muitas horas que eu quero apagar, esquecer, eliminar do calendário dos meus dias. Queria poder removê-lo cirurgicamente, com bisturi e sem anestesia. A frio. A dor acompanhou-me em muitos momentos e este dia que termina sabe ao sal das minhas lágrimas, sabe a solidão, a cansaço e a frustração. Sabe a derrota. Hoje a cabeça dói-me e o coração descompassado dentro do peito, sufoca-me, obriga-me a encher o peito de ar... Porque hoje o ar que inspiro não me chega, como se estivesse a afogar-me... e talvez esteja. Os ombros curvam-se numa dor fina e incómoda, que alastra a todos os ossos do meu corpo. Mas sabe-me bem esta serenidade agora, este murmurar suave do computador, e lentamente o desespero do dia de hoje esvai-se e deixa entrar a paz... As estrelas estão azuis e tu estás aqui comigo.
sexta-feira, 22 de maio de 2009
segunda-feira, 18 de maio de 2009
O último voo
Um dia, quando já ninguém precisar de mim, vou-me embora. Quando todos tiverem seguido os seus caminhos, vou sair desta casa onde ninguém me vê, ninguém me abraça, ninguém repara em mim ou nos meus passos. Nesse momento, abrirei as asas e lançar-me-ei no último voo... Começarei tudo de novo, longe daqui. Não levarei nada deste lugar, apenas os meus objectos pessoais e todos os meus livros, que encherão as estantes novas que cobrirão as paredes de um aposento iluminado. Quero começar tudo de novo, comprar todos os objectos de que precisarei para viver e serão objectos sem história, objectos nos quais escreverei a minha nova vida, a história do meu último voo. Um dia, vou procurar um apartamento à beira-mar, bastante alto, talvez num décimo andar (eu gosto do número dez), para que possa sem barreiras encher os olhos de azul. Vou decorá-lo em tons de branco, preto e vermelho, um vermelho quente, cor de cereja, cor de vida... Terei apenas o estritamente necessário, num estilo minimalista que me conforta e me liberta para as coisas que sinto prazer em fazer. Os móveis de linhas despojadas e lisas, guardarão apenas o essencial... e a minha nova casa será bonita, confortável e acolhedora. Aí serei feliz, longe das multidões, naquela solidão voluntária que gosto de sentir.
Se tu ainda estiveres comigo, se ainda me quiseres, chegarás sempre que queiras, com o teu sorriso de sol e haverá nos armários as tuas bolachas preferidas, as tuas bebidas favoritas, e um roupão azul pendurado ao lado do meu. Ficas lindo de azul... Na casa de banho, terás a tua escova de dentes, o teu gel de banho, o perfume que gostas de usar. Cozinharei para ti e conversaremos, abraçados no sofá onde me massajarás as costas e os ombros, riremos de tudo e de nada como tantas vezes fazemos hoje. Depois, podes ficar abraçado a mim, na noite silenciosa, acordado ou dormitando, numa doce preguiça e naquele cansaço bom que se sente depois do amor. De vez em quando, talvez possas ficar e acordar comigo, tomaremos banho juntos e obrigar-te-ei a engolir o pequeno almoço que não faz parte dos teus rituais. Quando saíres a meio da noite, beijar-me-ás os cabelos, talvez me afagues o rosto e irás sereno, saciado de mim e do nosso amor, para voltares sempre que queiras, sem avisar. E eu estarei sempre à tua espera, nessa casa que já construí e decorei, e que terá uma varanda enorme onde eu possa perder os olhos no azul do céu e do mar e respirar fundo o aroma a maresia... Será uma casa simples, porque eu preciso de pouco para ser feliz... E ninguém saberá que no teu pesado molho de chaves, disfarçada e escondida entre as outras, haverá uma que abrirá as portas de um décimo andar virado para o mar, onde eu serei feliz e estarei sempre à tua espera.
sábado, 9 de maio de 2009
Café com desejo
Enrola-se o pensamento à volta do teu nome numa teimosia inevitável e circular. É como se todas as coisas se iniciassem e terminassem em ti... Recordo o nosso encontro hoje de manhã, a alegria de te ter tão perto, à mesa do café que engoli distraídamente, perdida nos detalhes do teu rosto. A barba mais crescida, os olhos cheios de luz apesar do cansaço das noites tão longas, os lábios ligeiramente gretados, abertos num sorriso irresistível... E depois apoiaste o rosto na mão, e olhaste-me com desejo e ao mesmo tempo com todo o carinho do mundo, desafiando-me o abraço, o beijo na boca cheia de saudade... Eu olhei em volta e mudei de posição, apertei os meus braços contra o corpo para que eles não me desobedecessem, para que não se transformassem em asas e sobre a mesa te fossem apertar num abraço infinito, enquanto a boca pousada na curva doce do teu ombro, saboreando-te a pele, bebendo-te o perfume, diria apenas num sussurro que só tu ouvisses: "Quero-te tanto..."
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