terça-feira, 30 de março de 2010

Comigo

Não é ninguém, eu sei. Já fui ver. E confirmei. Duas vezes. Não é ninguém, a casa dorme e eu ouço passos nas escadas. Ouço-os pisar a carpete devagar e fazem estalar a madeira nos dois degraus que rangem. Sobem e descem, ininterruptamente. Há muito tempo que não os ouvia mas hoje voltaram, nesta noite fria e triste, com o vento asobiando junto à janela aqui tão perto. O gato está agitado, os olhos muito azuis puseram-se subitamente negros de inquietude e a cauda agita-se freneticamente denunciando-lhe o medo. Talvez também ele os ouça, os passos lentos na escadaria... ou talvez veja o que eu não consigo ver. Só sinto. E ouço. Mas no entanto, não tenho medo. Descobri que só os sinto, que só os ouço, que só me procuram quando estou muito triste, ou muito só. Como hoje. Como agora. Talvez venham por bem e queiram fazer-me apenas companhia... E talvez eles consigam fechar os buracos que tenho no peito e devolver-me o sono.

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