Não elevaste nunca o tom de voz enquanto falavas, enquanto deixavas escorregar calmamente as palavras que soavam como balas certeiras no meu peito. E esse tom quase suave com que finalmente desabafavas as tuas dores, pesava como chumbo, pairava, enchendo todo o carro, roubando todo o ar de que o meu peito precisava para respirar. Quis senti-la eu, toda a tristeza que tu tinhas... Quis envolver-te nos meus braços, encostar-te a cabeça ao meu peito e afagar-te o cabelo macio... mas não podia ser... Não conseguias ter as minhas mãos entre as tuas, não te apeteceu o meu beijo, o meu abraço, a saudade que eu trazia escondida... Era como se de repente um mar aberto e infinito se atravessasse entre nós... Desejei mil vezes poder voltar atrás, riscar as circunstâncias, fazer tudo de maneira diferente... e no entanto, não era possível... Não era possível não te ter ferido...
Compreendo-te tão bem... Sinto-as tantas vezes, essas dores que me mostraste... Tens tanta razão na desilusão que sentiste, na frustração, na revolta, na solidão, que só lamento que não me tenhas deixado tocar-te o coração, que não me tenha sido possível proteger-te num abraço que te fizesse acreditar que se eu pudesse voltar atrás, mudava tudo só para não permitir que sofresses, só para que acreditasses que tu também és a bússula que me norteia a vida.
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