Sabes, de toda a nossa história fica a minha alma amarrotada e a minha consciência tranquila. Lutei por ti tudo o que podia. Tudo o que sabia. Lutei com desespero contra marés adversas, guerreei os ventos, os tempos e os deuses... Fintei o destino. Fui buscar-te vezes sem conta aos confins de ti, a sítios tão longínquos que nem tu acreditavas que pudesse haver regresso. Hoje concluo que difícil não é lutar por aquilo que se quer, e sim desistir daquilo que mais se ama.
Eu desisti.
Mas não penses que foi por não ter coragem de lutar. Foi sim, por não ter mais condições de sofrer. Por não te sentir sereno e forte do meu lado, por ter lido nos teus olhos a inquietação de quem não é feliz comigo, por perceber que vacilas, que hesitas, que receias, que duvidas do que somos... Porque a dor da tua ausência me rasga o peito, porque os silêncios, os teus e os meus, se tornaram insuportáveis e ensurdecedores, por ter entendido finalmente que já não olhamos na mesma direcção, que não somos já o pilar forte um do outro, o alicerce que julgámos que nunca ruiria... Por tudo isto eu te liberto, eu desisto de lutar por ti. Desta vez sou eu quem vai embora. Sinto-te inclinado num precipício, braços abertos, peito erguido e rosto levantado à espera da rajada de vento fresco que te lance no voo... Pois bem, não te prendo mais, nada mais te agarra a mim e podes ser livre de novo, podes continuar o voo da tua vida sem amarras ou cadeias. Devolvo-te a tua liberdade e com ela a serenidade que perdeste comigo. O teu coração é finalmente livre. Não tenho maior prova de amor para te dar do que esta, a de que desisto amando-te deste jeito louco, desesperado... do único jeito que sei amar-te.
E afinal, desistir é apenas uma outra forma de luta, a única que eu encontro para conservar para sempre tudo o que és em mim.
O tudo que tu és em mim.