segunda-feira, 29 de junho de 2009

Marcas de amor


Hoje enquanto me vestia devagar em frente ao espelho os meus olhos demoraram-se na pisadura do braço, bem evidente na pele tão clara. Uma mancha negra e redonda, a marca perfeita do teu polegar quando me agarraste com força. Na altura achei que o fazias com raiva, ódio até... mas agora penso que talvez fosse só desespero, um desespero incontrolável ao veres que nos perdíamos outra vez... Dói-me quando lhe toco, mas em breve ganhará aquele tom amarelado e desaparecerá finalmente sem deixar vestígios, ajudando-me a esquecer aquela noite escura. Desses momentos fica apenas uma história com uma única culpada e um só ferido... e eu vou deixar as coisas assim... vou esperar apenas que o tempo ao apagar a nódoa negra, leve também com ele todas as outras marcas de amor que me deixaste no coração.
Porque como tu próprio quiseste, entre nós está tudo dito.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

A vida não me apetece

Tento redesenhar a minha vida nesta folha em branco que são os dias que virão. Não consigo encontrar uma nota de cor, um traço seguro que me indique o rumo a seguir... É como uma música que nunca ouvi e não sei tocar, um insustentável silêncio depois da tua voz... Fecho-me em mim, guardando as memórias do que fomos num ninho donde não me apetece sair, longe duma vida que não quero viver. Não sei caminhar sem ti, sem o som dos teus passos nesta estrada solitária e dolorosamente silenciosa... Dentro de mim já não há mais nada, talvez só tristeza e mágoa, vazio e sombras... e a minha dor, encostada ao passado, ainda tão incrivelmente presente.
Tento resenhar a minha vida, colori-la de azul, como o mar e a noite que nos acolheram tantas vezes, as estrelas onde sempre nos sabíamos encontrar... mas a cor não nasce, teimosamente afoga-se no negro que há cá dentro e me encharca a alma. Ando às voltas perdida dentro de mim, tentando achar uma saída... Mas a vida não me apetece.

sábado, 13 de junho de 2009

Tocar a lua...


Fui lá fora há pouco respirar a noite e fiquei emudecida longos minutos a admirar a lua. Vai vê-la também, amor, quando regressares a casa, procura-a por entre os rostos dos prédios altos, atravessa a rua se for preciso, e vai vê-la. Hoje a noite tem estrelas azuis e uma lua branca, enorme, parada no céu negro e quase possível de alcançar... E nesta noite calma, eu sinto que o nosso amor é como a lua, quase possível de guardar para sempre. Foi um dia tão lindo que passámos juntos! Um dia cheio de doçura, de palavras, um dia em que conversámos olhos nos olhos, de mãos dadas, e nos beijámos na boca à mesa de um café... Passeámos abraçados na rua cheia de vento e por breves momentos não fomos mais do que duas pessoas que se amam muito, invisíveis ao resto do mundo. Hoje não tive medo dos homens, dos olhares alheios que nos podem separar, e não precisei de te falar em surdina porque ninguém à nossa volta se preocupava com o que dizíamos... Hoje fui apenas a tua namorada, feliz por te amar aos olhos do mundo, a céu aberto, e afinal, descobri que como todas as pessoas que se amam, preciso de pedir muito pouco aos deuses para alcançar a felicidade.
Só preciso mesmo, de vez em quando, de conseguir tocar a lua...

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Um sorriso de sol

Hoje fui procurá-la entre as páginas do livro onde a tinha escondido, e fiquei durante muito tempo a olhá-la, a gravar os detalhes, a descobrir pormenores que me ensinassem mais sobre ti. Deste-ma ontem, depois de termos feito amor e disseste que adoravas aquela foto. Tu tens razão... a pessoa que te fotografou foi feliz na escolha do momento. O teu rosto, que ocupa o centro da imagem, irradia uma luz lindíssima, um brilho feliz, como poucas vezes as fotos conseguem ilustrar. Passei devagar os dedos na pele do teu rosto, na barba macia, nos cabelos brilhantes e sedosos... e quase consegui evocar o perfume da tua pele... Demorei a minha atenção nos teus olhos... são os teus olhos sem sombras que ali estão, que traduzem alegria quando te sentes sereno. Estás muito bonito. A t-shirt preta contrasta com o tom moreno do teu rosto, destacando-o de imediato e evidenciando os teus dentes bonitos e certinhos. És a imagem de um homem feliz. E eu tento imaginar a quem sorririas, em que pensarias naquele momento, quem fazia bater mais forte o teu coração, no momento em que a máquina gravou para sempre o teu sorriso de sol... Ainda não nos conhecíamos, não podias sequer imaginar que os nossos destinos se cruzariam deste modo, enlaçados em nós tão apertados, tão impossíveis de desatar... Sabes... esta foto tem para mim o valor de uma jóia rara e cara... Quando ma deste ontem, estávamos felizes e tu sorrias quando abriste as portas do teu passado e me convidaste a entrar, quando quiseste que eu soubesse como era um bocadinho de ti antes de eu existir, há tantos anos atrás... E isso é um presente maravilhoso. Oferecermos o nosso passado a alguém que amamos é uma atitude rara e generosa e encheste-me de uma felicidade secreta que não consegui dizer-te... Por isso digo-te agora que o meu coração e os meus olhos tatuaram o teu sorriso cá dentro e posso carregá-lo sempre comigo, faz parte das minhas memórias também. Guardo o teu sorriso que eu amo e que às vezes te faço perder, que destruo com palavras, com gestos, com atitudes ou com silêncios, o teu sorriso naquele dia há tantos anos atrás quando sem saberes, caminhavas já em direcção a mim, empurrado pelos deuses ou por qualquer outra força superior que junta dois seres humanos num amor único para todo o sempre...

sábado, 6 de junho de 2009

Os sonhos também morrem


Hoje morri às quatro da tarde e ninguém reparou. Dos que me rodeavam, dos que me falavam, ninguém viu, ninguém notou que eu já não existia... Talvez não haja dor maior do que sentir que não somos importantes para ninguém, que não ser preciso limpar disfarçadamente uma lágrima teimosa, porque ninguém a vê cair cá dentro, no coração. Tu terias sabido, se me tivesses visto, que eu já não ando por aqui... voei para longe, à procura de um tempo e de um espaço onde a dor não me alcance. Tu conheces-me bem, lerias nos meus olhos e saberias que eu morri hoje.
Às quatro da tarde.