quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Do amor


Quando a noite muito negra e gelada nos envolveu, não sentíamos frio porque as nossas mãos, numa meiga sinfonia, procuravam o caminho dos corpos quentes de desejo e as bocas ansiosas saboreavam apenas a felicidade suprema que é amar e ser amado... dar e receber... numa partilha única e perfeita como é a do amor.
A do nosso amor.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

NÓS

O meu sonho é como um cão vadio, desses que se nos colam à porta e ali ficam, de olhos meigos e submissos, implorando guarida. Já o enxotei, já o apedrejei, mas ele volta. Quando me apanha distraída, sempre que eu baixo a guarda, ele regressa, entra-me por um vazio qualquer do olhar e enrosca-se num novelo triste à porta do coração. Deixei de o alimentar, há muito tempo que não o abrigo no calor da memória, mas de nada adianta. Ele volta. Volta sempre.
Era um sonho bonito, cheio de cor e de luz, perfumado, com os pronomes, os adjectivos, os substantivos e os verbos conjugados na primeira pessoa do plural. No meu sonho todas as frases começavam por "NÓS". Agora, com o passar do tempo e com o silêncio, o meu sonho vai ficando mais baço, as cores e a luz esbatem-se, vai perdendo o aroma e os contornos, embrulhou-se no mutismo dócil e frio de quem espera apenas a machadada final. O meu sonho agonizante vai morrendo lentamente. Quando me sentir capaz, matá-lo-ei um dia destes, dar-lhe-ei o golpe de misericórdia quando tiver já feito outras viagens no mar da vida. Por agora, faço de conta que ele não existe e deixo-o enrolado na sua própria solidão, nada pedindo, nada exigindo em troca, a não ser que o deixe ficar aqui... Por agora finjo que não o vejo, que é só um cão vadio errando nas estradas do tempo, lutando pela sobrevivência, à procura de um dono que lhe invente um ninho.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Da solidão

O tempo escoa rápido indiferente ao meu sentir e o prazo esgota-se. Não consigo carregar este fardo que me verga os ombros, me parte a espinha das emoções. Pesado demais, ele rouba-me a lucidez e a capacidade de raciocínio, tolda-me a visão, impede-me de decidir. E no entanto é preciso decidir, rematar esta espera solitária onde voz nenhuma me aconselhará, onde braços nenhuns me acolherão, onde nenhum sorriso me dará o colo de que preciso, o abrigo onde a minha alma escorraçada por mil silêncios, possa serenar um pouco. Então é isto de que falam os loucos... afinal é este o rosto da solidão...
E eu deito a cabeça entre os braços e choro.

Hoje sinto-me profundamente só.

Da realidade

Vou minimizando cada vez mais tudo o que digo, vou reduzindo as frases, poupando as palavras, encurtando as sílabas, num esforço para que não me notem a presença, para não darem por mim.
E durante o dia tento não parar, evito a quietude para que a memória não me traga a dor de volta. Trabalho, limpo, lavo, aspiro, cozinho, arrumo, leio, cumpro... sou mãe, amiga, colega, filha, irmã, mulher e amante, num ritmo vertiginoso, de rajada, para não pensar...
Mas só sou feliz quando me sento aqui, sozinha, pouso as armas e dispo as máscaras... e neste silêncio fico a um minuto de ti.

Dos sonhos

É uma igrejinha simpática, caiada de branco, que fica num pequeno morro, abraçada pelas sombras do pinhal. Nunca lá fomos. E no entanto, recordo-me bem, disseste que um dia, quando eu estivesse boa e me sentisse mais forte, subiríamos lá os dois... Continuo a acreditar, sabes? Continuo a achar que faz sentido. Agora que já estou curada, sinto-me forte, capaz de enfrentar qualquer subida vertiginosa, escalar qualquer montanha, contigo do meu lado...
E ainda não me morreram todos os sonhos.

domingo, 26 de outubro de 2008

Eu compreendo-te meu amor. Partiste porque não querias ver-me morrer a cada dia, não querias que eu sofresse, sufocada pelo peso de uma decisão que tinhas a certeza que eu tomaria. Ver-me assim era uma dor maior do que a dor da despedida, adiar o inadiável era uma hipótese impensável... E então fizeste tu o papel dos deuses, trouxeste para o presente um futuro que adivinhavas... Cortaste as esperanças, as ilusões, pela raiz.
Agora só temos isto... apenas um presente negro, mortalmente negro, e um amanhã infinitamente vazio...

... sabias?

Esta noite não me apetece estar sem ti.

sábado, 25 de outubro de 2008

A sete chaves


Rebelde, o meu coração rasgou-me o peito, estilhaçou a vidraça do quarto e desobediente, voou a procurar-te. Parou na tua rua, viu a luz lá dentro e bateu à porta suavemente. Como eu dantes fazia. Quando abriste, apertou-se contra ti, a tremer de emoção e assim ficou sem dizer nada... Como eu dantes fazia. Depois beijou-te a boca com a urgência da saudade, sentiu-te o cheiro, tocou-te o corpo procurando-te o desejo, alimentou-se de ti... Como eu dantes fazia. Saciado, deixou-te só, depois do abraço apertado como cordas, forte como amarras... Depois das palavras sussurradas com voz quente... Como eu dantes fazia...
Quando o vi chegar, o meu coração ferido, esse teimoso indomável, não tive coragem de o castigar... Recolhi-o com carinho, tratei-lhe das feridas e fechei-o à chave de novo em mim, acorrentei-o no meu peito, ralhando-lhe baixinho, proibindo-o de voltar para ti.

Mas amo-te

Acabei de te escrever. Mais uma vez redigi um texto com mil cuidados, evitei as palavras dúbias, apaguei todas as metáforas que me afastassem de ti. Procurei a objectividade do sentir. Tentei abrir-te o meu coração num texto que não fosse lamechas, suprimi as lágrimas e a dor. Reli-o e gostei porque nele via-se a minha alma nua. Mas depois reparei que no fim de tudo, na despedida, dizia "Amo-te". Tinha-me esquecido que já não posso dizer "Amo-te" nunca mais, mas a verdade guiou-me os dedos... Com lágrimas nos olhos apaguei a palavra... e ainda não foi desta vez que te enviei a mensagem.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

De amor e desespero


Mandaste-me embora, de volta para um lugar de onde eu, sem saber, já tinha partido há muito... E de nada adianta... porque continuo enroscada no teu abraço, com o rosto pousado na curva do teu pescoço, sentindo-te o perfume da pele, as mãos brincando distraídas no teu peito, os dedos soltando-te o desejo urgente... Não se manda no coração, tens razão... E o meu, caprichoso e dominador, continua preso ao teu, continua a sonhar que o nosso amor apesar de improvável é possível, como de repente florir uma flor no asfalto negro e gelado de uma estrada.
É aqui que eu quero ficar e de nada adianta mandares-me embora. Porque o meu coração não vai...

O mesmo dia vazio

Todos os dias acordo com esperança e digo para mim própria: "Hoje é outro dia". E depois, quando me deito, faço-o com a sensação de que foi outra vez o mesmo dia.
Afinal, é sempre o mesmo dia.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Tu foste o sorriso mais livre que me aconteceu.

Não me procures. Encontra-me.

Se és feliz

Dou comigo preocupada contigo a cada instante.
Se conseguirás cumprir o prazo de entrega do trabalho, se tens descansado direito, se bebes café em excesso, se fumas compulsivamente, se te alimentas em condições, se andas à chuva, se te passou a tosse, se ligas o aquecedor para te protegeres do frio enquanto trabalhas, se te magoaste a jogar futebol, se tens visitado a tua mãe, se procuras os teus amigos, se dormes serenamente ou se acordas assustado e encharcado em suor, a meio de um qualquer pesadelo horrível onde grites o meu nome.
Bloqueei todos os meus contactos. Só tu me vês.
Mas continuas a não me ver. Só tu não me queres ver.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Cacos

Não consigo levantar-me. À minha volta, espalhados pelos chão, vejo os cacos de mim, o meu coração partido em mil pedaços que não consigo recuperar. Mataste tudo o que havia dentro da minha alma... Agora só encontro sombras, o vazio e o silêncio.
E no entanto, cá dentro, o resto do que sou, tudo o que ainda sou, continua a dizer baixinho o teu nome e a fazer ecoar um estribilho triste e doído: Para Sempre.
O teu nome em mim, Para Sempre.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

E agora?


Manhã clara, o sol doirando os passeios, a estrada, as tímidas árvores sobreviventes na lapela da rua. Pessoas cruzando os caminhos com a pressa de quem tem um rumo a cumprir. Só eu, parada, inerte, os olhos ansiosos buscando um qualquer objectivo que me atire os passos para a caminhada. Só eu sem norte, estacionada na berma, indiferente a qualquer sinal verde, a qualquer sentido proibido.
Só eu perdida em mim e à deriva, como gaivota na trovoada.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Sem ti

Partiste mais uma vez. Desta vez é para sempre.
Sem saberes, levaste-me todas as palavras e mataste o resto da minha alegria.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Contigo


Saíste para comprar cigarros e tomar café. Eu vou esperar-te, não quero perder um minuto desta noite doce... nem da tua companhia.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Lágrimas


Nunca to direi, nunca saberás. Nunca deixarei que descubras que não vacilaria, nunca hesitaria se fosse possível construir um universo novo contigo... Um mundo onde não entrasse mais ninguém, onde nos pertencessemos em exclusivo, onde fossemos só um do outro. Às vezes, quando te olho fixamente , perguntas-me em que penso... E não poderás saber nunca que tento descobrir-te a alma, tento saber se estou também em primeiro lugar no mundo dos teus afectos, que decisão tomarias, se eu te pedisse para ficares comigo...
E as lágrimas que deixo fugir envergonhada são apenas porque tenho muito medo da resposta, porque a conheço já sem nunca te ter perguntado...
E eu queria apenas, queria muito...! que a resposta que adivinho fosse outra.

A sós

Hoje porque me negaste a tua boca?
Só as tuas mãos estiveram entre as minhas, com candura, no mesmo bailado doce da pele que se procura... E, no entanto, sinto que não estiveste inteiramente comigo, que foi mais um dia que perdemos.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Desencontros

Tenho tanto medo de te encontrar que mesmo nunca te encontrando estás mais presente que todos os que vejo girar à minha volta.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Saudade


De ti.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Penso-te

O sono não vem, bailando distraído nas sombras do tecto. Atrasa-se, demora-se, esperando pela memória do teu sorriso que virá por fim trazer-me a paz.
Por isso te aguardo.
Por isso te penso.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Contigo

Chegámos à praia à hora das gaivotas. Havia imensas, debicando a areia ou simplesmente deitadas, numa calma que estranhei. Não se ouviam os costumeiros gritos que as caracterizam e tu disseste que elas estavam a apanhar sol, o que me acordou o sorriso... O perfume do mar era fortíssimo, entrando-nos pelos poros, fazendo perfeito o momento inesperado. E eu dediquei a minha atenção a observar-te enquanto te afastavas com os olhos cravados na areia cor de mel, procurando beijinhos. Estavas lindo, o vento morno despenteando-te com meiguice o cabelo macio e ainda molhado, o ar salgado corando-te suavemente as faces. E sorrias... Sorrias quando me estendeste o troféu - o único beijinho que tinhas encontrado. Ajudaste-me a descer e a subir as dunas íngremes, dando-me a mão, oferecendo-me o teu corpo para que eu não caísse. E eu senti-me segura, tão segura, contigo do meu lado! Tínhamos a cumplicidade do murmurar das ondas e da solidão daquela praia e sentados numa rocha, partilhámos cigarros do teu maço, conversas brandas e momentos de silêncio. Não havia nuvens, nada parecia ameaçar este amor tão estranho e improvável, que nos desafia as vontades, nos ludibria as emoções...
Quando mais tarde no centro da cidade encostei o carro para tu saíres, beijaste-me a boca com insolência e ousadia, demorando os teus lábios nos meus tempo de mais, para a multidão que nos rodeava em hora de ponta. Mas a tua audacidade, o teu beijo que me emudeceu, desatou-me um sorriso que me emoldurou a boca e o olhar enquanto conduzia o mais devagar possível até chegar a casa.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Um dia a menos

Hoje não te vi, não te falei, não ouvi a tua voz, não me escreveste... Não senti o teu perfume. Hoje não soube nada de ti.
E agora que a noite se agiganta, ao olhar para este dia que passou, é como se na realidade não o tivesse vivido... É como se não tivesse valido a pena.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Domingo

Odeio os domingos... Nunca te disse, pois não? Não sei que fazer a este estar sem ti, a esta ausência da tua pele, da tua voz... Tenho sempre a desconfortável sensação de viver pela metade, de existir partida ao meio, com uma parte de mim perdida nos ecos do teu sorriso, agarrada ao teu perfume... para tentar encontrar um sentido ao rumo dos meus passos.

domingo, 5 de outubro de 2008

Insónia

Hoje foi tão intenso estar nos teus braços que nem vou lutar quando a tua memória vier morder-me a madrugada.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Um lugar no coração

Quando saí do consultório médico, tinha o olhar turvo e um apertado nó na garganta impedia-me de respirar. Entrei no carro e foi o teu número que eu marquei, de imediato e sem hesitações... Foi a tua voz que eu quis ouvir antes de todas as outras vozes, foi no teu abraço que desejei serenar, foi a tua boca que me trouxe a calma. De mãos dadas, em frente ao mar gelado, perdemos o pôr-do-sol mas ganhamos o anoitecer. E foi aí, nesse momento, que percebi com clareza a solidez do teu amor nos lugares do meu coração. Foi nessa altura que entendi, talvez pela primeira vez, que se me pedisses para escolher, eu escolhia-te.
E tenho que te dizer isto tudo hoje... porque não agora?...
Afinal todas as histórias de amor têm que ser contadas um dia.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Amanhã talvez...

Será difícil imaginares, sequer sonhares, que ao longo do dia, enquanto trabalho, as minhas mãos, como seres independentes da minha vontade, amiúde vasculham a carteira com nervosismo disfarçado, revolvendo o caótico conteúdo para procurar o telemóvel. Quando o encontram, são os olhos que ansiosamente lêem o ecrã, à espera da frase tão desejada: "1 mensagem recebida". E sonho que é tua, que foste tu que num impulso saudoso, num incontrolável desejo, me digitaste palavras simples que me aquecem o coração, me incendeiam o sorriso. Sonho que és tu que vens assim iluminar o meu dia, encher-me os minutos de felicidade, beijar-me na frase simples espelhada no telefone. Mas o hábito de me mandares sms, perdeste-o há algum tempo... Talvez já não sintas necessidade de me falar a meio do dia... Porque é que então, teimosamente, continuo a sonhar? Porque continuo à espera de ti, assim, inusitadamente a meio do trabalho, porque continuo a desejar-te tanto a presença, porque continuo eu a precisar tanto da tua voz?
Se pudesses imaginar a desilusão doída que é voltar a guardar o tlm num inevitável desespero para não encarar o olhar mudo, trocista, quase desdenhoso do visor apagado que me traz por fim, de volta à realidade...
Mais um dia passou e tu não me desejaste a presença, mais um dia e eu não te apeteci...
Amanhã, talvez...

Por um minuto apenas

Hoje zangaste-te comigo, ralhaste-me, chamaste-me até irresponsável porque eu adiei a consulta médica para amanhã, só para poder estar contigo uma hora, que passou a voar. Mas sabes, eu não podia dizer-te, não tive coragem, diante daquele mar tão irado, de te confessar que preciso de todos os minutos contigo... que me são absolutamente indispensáveis para quando eu não te tiver do meu lado, para quando tu te fores de novo... E estar junto do teu peito, partilhar o teu respirar, são momentos de felicidade de que não abdico enquanto me for permitido ludibriar os deuses. Qualquer minuto contigo, por mais breve que seja, terá valido a pena.
Sempre.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

De repente...

E de repente, não mais que de repente, eis que tu surges, invadindo o café, quando eu já não esperava ou acreditava que o fizesses. De repente, já só existes tu, a encher todo o espaço, todo o momento, mesmo à distância de uma mesa, mesmo com os olhos cravados na folha do jornal que lês com duvidosa atenção. De repente, quase te sinto o cheiro tão familiar, quase te sinto a pele, a maciez do cabelo... De repente, estamos parados no meio da rua, os corpos tocando-se quase por acaso, perigosamente próximos, dolorosamente afastados, tu sorrindo-me e desafiando-me os sentidos com mil promessas no olhar tentador, a boca demorando-se no canto dos meus lábios no momento da despedida... De repente, tu apareces à porta da escola reclamando a minha presença junto do teu corpo... E de repente, no meio de uma pequena multidão, só lá estamos nós, só está o teu peito tão perto do meu, o teu peito onde eu gostaria de repousar a cabeça, os teus braços que eu queria que me envolvessem... De repente, o mundo vira sorrisos alegrando-me o intervalo, enchendo de luz e brilho a rotineira hora do lanche. De repente, surge o desejo de me demorar contigo, de prolongar os minutos tão escassos em que a vida se enche de cor, em que acredito que tudo é possível. De repente surpreendes-me no olhar descarado que me atiras, atiçando o desejo, provocando as emoções, despoletando em mim um turbilhão de sensações que eu deixo soltarem-se. De repente, tu és o meu amor que me vem ver, só a mim, e o mundo inteiro deixa de fazer sentido para me concentrar apenas na tua presença chicoteando-me o desejo...
De repente, surpreendes-me.
De repente, apeteces-me...
E o dia corre melhor.

Aqui

Aqui fico enfim a sós comigo. A sós contigo.
Aqui só quero respirar o teu perfume...