Chegámos à praia à hora das gaivotas. Havia imensas, debicando a areia ou simplesmente deitadas, numa calma que estranhei. Não se ouviam os costumeiros gritos que as caracterizam e tu disseste que elas estavam a apanhar sol, o que me acordou o sorriso... O perfume do mar era fortíssimo, entrando-nos pelos poros, fazendo perfeito o momento inesperado. E eu dediquei a minha atenção a observar-te enquanto te afastavas com os olhos cravados na areia cor de mel, procurando beijinhos. Estavas lindo, o vento morno despenteando-te com meiguice o cabelo macio e ainda molhado, o ar salgado corando-te suavemente as faces. E sorrias... Sorrias quando me estendeste o troféu - o único beijinho que tinhas encontrado. Ajudaste-me a descer e a subir as dunas íngremes, dando-me a mão, oferecendo-me o teu corpo para que eu não caísse. E eu senti-me segura, tão segura, contigo do meu lado! Tínhamos a cumplicidade do murmurar das ondas e da solidão daquela praia e sentados numa rocha, partilhámos cigarros do teu maço, conversas brandas e momentos de silêncio. Não havia nuvens, nada parecia ameaçar este amor tão estranho e improvável, que nos desafia as vontades, nos ludibria as emoções...
Quando mais tarde no centro da cidade encostei o carro para tu saíres, beijaste-me a boca com insolência e ousadia, demorando os teus lábios nos meus tempo de mais, para a multidão que nos rodeava em hora de ponta. Mas a tua audacidade, o teu beijo que me emudeceu, desatou-me um sorriso que me emoldurou a boca e o olhar enquanto conduzia o mais devagar possível até chegar a casa.
Sem comentários:
Enviar um comentário