terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Há dias em que acordamos e não nos reconhecemos. Olhamo-nos no espelho e vemos um reflexo familiar. A mesma imagem que vimos tantas vezes.Mas há dias em que não reconhecemos a pessoa que parece habitar dentro de nós. Acordamos e um estranho ocupou o nosso corpo durante a noite, invadiu espaços privados, abriu cartas antigas, queimou fotografias e afixou outras nas paredes e pôs a tocar o mesmo disco vezes sem conta.Há noites em que a noite nos transforma, resgatando personagens de livros e transportando-as para dentro de nós, mostrando-nos que não somos um, mas um milhão de possibilidades.

Um milhão e uma possibilidades.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Quase perfeito...

Foi um encontro quase perfeito... mas eu tinha que estragar tudo... Não devia ter-te falado em falta, em saudade, percebi que as palavras proferidas te fizeram recuar como se te tivessem esbofeteado...
Que mania tão estúpida esta, de ter sempre o coração ao pé da boca, de soltar assim as emoções, como se este amor me sufocasse o peito e fosse necessário, imperioso, gritá-lo sempre que estou contigo...

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

A sós comigo


Tenho as mãos feridas e o peito sereno, cheio de uma solidão boa, uma solidão só minha onde me revejo como num espelho. Passei o dia a sós comigo, exorcizando fantasmas. Esta minha velha mania de me atirar furiosamente às limpezas quando não consigo arrumar a vida! Acho que fui sempre assim e agora, com o ano a terminar, preciso de passar a pente fino os recantos da vida e da alma. Iniciei as arrumações hoje. Nenhum armário, gaveta, roupeiro, prateleira, escapará à selecção implacável que hoje teve início... e é como se arrumando a casa, arrumasse também os meus fantasmas. Decidi deitar fora todos os livros de que não gosto ou que já não me são úteis, toda a roupa que nunca mais me servirá, todo o calçado que me magoa o caminhar, todos os papéis inúteis, todas as recordações que me apetece apagar... quero entrar no novo ano sem objectos inúteis, sem pesos na alma, sem lixo na vida. Vivi este dia sozinha, este dia inteirinho, e termino-o a sós comigo. Sinto-me estranhamente calma e profundamente triste... com um vazio nas mãos que não consigo preencher... Não me apetece falar com ninguém, ver ninguém, estar em nenhuma companhia que não seja a minha... Aqui respiro sem disfarce, aqui posso chorar as lágrimas que segurei o dia todo, aqui não reprimo as emoções. Isto que sinto e que me sufoca o peito, não tenho a quem contar e não interessaria a ninguém... De certo modo, sei que estou por minha conta, que do outro lado do silêncio só existe o meu rosto, e aceito esta verdade com serenidade. Às vezes, só estamos bem na nossa própria solidão... e surpreendentemente bastamo-nos a nós próprios, completamo-nos a sós connosco...

domingo, 21 de dezembro de 2008

Apago...



Hoje consegui fazer tudo mal. Falhei as palavras, falhei os tempos, falhei os silêncios e os sorrisos...
Hoje errei todas as horas do meu dia.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Procurei contar há quantos dias não te digo Amo-te e não me lembro já. Perdi-me nos dedos das mãos vazias de ti. E faz-me falta dizer-to todos os dias, várias vezes, todas as vezes, porque tenho muito medo que o esqueças...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008


Eram seis e um quarto quando desististe. Foi a essa hora que o médico desligou as máquinas, soltou os tubos que quase te cobriam por completo, retirou a máscara e assinou a certidão de óbito. Seis e um quarto. Nesse momento, eu estava a tomar café com uma pessoa que amo muito e de quem tenho andado perdida. A conversa deslizava entre coleccionismo, memórias de infância, superstições, simbologia, Fernando Pessoa, espiritismo, reencarnação, morte e vida, almas gémeas e desencontros eternos... Foi uma conversa serena como são quase todas as nossas conversas... e boa... e quente. Quando tu morreste, eu estava provavelmente a lutar para que os meus olhos não se demorassem nos dele tempo demais, evitava talvez que ele percebesse o nervosismo que a presença dele sempre me causa e que se deixava trair no brincar com o isqueiro, no dobrar vezes sem conta o pacote de açucar... Falei-lhe de ti, da última vez que te tinha visto e tu nem sabias que eu ali estava... do fio que nos prende à vida, tão frágil, do meu terror da morte... Foi difícil conversar hoje... O pensamento dispersava-se, talvez por causa dos medicamentos hipotensores, sentia a fala entaramelada e havia muitas emoções dentro do meu peito...
À hora em que partiste provavelmente eu proferi o teu nome. Não sei onde estás agora. Só sei que já não és aquele corpo que amanhã velarei na igreja, ali só estará o teu invólucro, que apodrecerá debaixo da terra gelada. Por isso, desejo à parte de ti que às seis um quarto voou para um outro sítio, uma viagem serena.
Descansa em paz.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Nas asas da memória

Tens um jeito natural de inclinar ligeiramente a cabeça quando ouves com atenção e a madeixa rebelde do teu cabelo macio, tomba livremente sobre o teu rosto bonito. E depois sorris. Sorris o teu sorriso mais encantador, diferente de todos os que conheço, um sorriso muito meigo, muito doce, que ilumina mais o luar dos teus olhos castanhos e enche de cor a minha memória.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Tudo em mim


Sabes, de toda a nossa história fica a minha alma amarrotada e a minha consciência tranquila. Lutei por ti tudo o que podia. Tudo o que sabia. Lutei com desespero contra marés adversas, guerreei os ventos, os tempos e os deuses... Fintei o destino. Fui buscar-te vezes sem conta aos confins de ti, a sítios tão longínquos que nem tu acreditavas que pudesse haver regresso. Hoje concluo que difícil não é lutar por aquilo que se quer, e sim desistir daquilo que mais se ama.

Eu desisti.

Mas não penses que foi por não ter coragem de lutar. Foi sim, por não ter mais condições de sofrer. Por não te sentir sereno e forte do meu lado, por ter lido nos teus olhos a inquietação de quem não é feliz comigo, por perceber que vacilas, que hesitas, que receias, que duvidas do que somos... Porque a dor da tua ausência me rasga o peito, porque os silêncios, os teus e os meus, se tornaram insuportáveis e ensurdecedores, por ter entendido finalmente que já não olhamos na mesma direcção, que não somos já o pilar forte um do outro, o alicerce que julgámos que nunca ruiria... Por tudo isto eu te liberto, eu desisto de lutar por ti. Desta vez sou eu quem vai embora. Sinto-te inclinado num precipício, braços abertos, peito erguido e rosto levantado à espera da rajada de vento fresco que te lance no voo... Pois bem, não te prendo mais, nada mais te agarra a mim e podes ser livre de novo, podes continuar o voo da tua vida sem amarras ou cadeias. Devolvo-te a tua liberdade e com ela a serenidade que perdeste comigo. O teu coração é finalmente livre. Não tenho maior prova de amor para te dar do que esta, a de que desisto amando-te deste jeito louco, desesperado... do único jeito que sei amar-te.
E afinal, desistir é apenas uma outra forma de luta, a única que eu encontro para conservar para sempre tudo o que és em mim.
O tudo que tu és em mim.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Todo o tempo do mundo


Hoje tentei ligar-te várias vezes mas tinhas o telefone desligado. Não importa o que tinha para dizer-te, agora já não importa. A única coisa importante é o teu desejo de solidão, a tua necessidade de recolhimento, de isolamento. Não me queres ver, não tens nada para me dizer e eu compreendo-te, acredita que sim. É só por isso que venho dizer-te que não te perseguirei, não te procurarei, respeitarei o que sentes. Compreendi a mensagem... Ficarei deste lado, em silêncio também, até que passe a monção, até que as rosas ganhem cor de novo...
Sabes, tinha planos para amanhã... Por motivos profissionais que tu conheces, poderíamos almoçar juntos no nosso restaurante e depois, com calma, desceríamos à praia até ao entardecer... Tenho saudades de conversar contigo, de saber de ti, de te amar em cada sorriso, em cada palavra. Mas os planos rasgaram-se... e eu sei que tem que ser assim, que precisas deste tempo para reencontrar a serenidade.
Quanto a mim... não te preocupes, eu sei esperar. O tempo que for preciso.
Tenho todo o tempo do mundo para ti.
Aceita um beijo... e fica bem.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Hoje estou de poucas palavras.
Tenho medo de falar.
Contigo.
E comigo.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Ruptura

Falaste em ruptura. Em desentranharmo-nos um do outro, como se rasgássemos uma folha de papel em dois pedaços, como se roubássemos uma peça a um puzzle que para sempre ficará inacabado, incompleto. E eu quis dizer-te que é como se me pedisses para até ao fim dos meus dias não mais fruir um pôr-do-sol, um dia de praia ou um refresco numa esplanada... Como se roubasse o sal aos alimentos, a luz clara aos meus dias, o vento morno ao entardecer... Como se nunca mais me fosse permitido passear à beira-mar e respirar o perfume da maresia... Como se só pudesse ver filmes a preto e branco... Como se ficasse sem o riso solto e alegre de cada conversa... Como se nunca mais pudesse ouvir uma música que me encanta, ler um livro que me arrebata, dançar ao ritmo de uma cadência qualquer... Será que não compreendes? Não morrerei... isso não... mas serei um fantasma que se arrasta, uma sombra cheia de silêncio num mundo frio, escuro, áspero e sem sabor, vivendo apenas na esperança de te encontrar por acaso e gastando o tempo todo a recordar-te...

sábado, 15 de novembro de 2008

A sós contigo

Não elevaste nunca o tom de voz enquanto falavas, enquanto deixavas escorregar calmamente as palavras que soavam como balas certeiras no meu peito. E esse tom quase suave com que finalmente desabafavas as tuas dores, pesava como chumbo, pairava, enchendo todo o carro, roubando todo o ar de que o meu peito precisava para respirar. Quis senti-la eu, toda a tristeza que tu tinhas... Quis envolver-te nos meus braços, encostar-te a cabeça ao meu peito e afagar-te o cabelo macio... mas não podia ser... Não conseguias ter as minhas mãos entre as tuas, não te apeteceu o meu beijo, o meu abraço, a saudade que eu trazia escondida... Era como se de repente um mar aberto e infinito se atravessasse entre nós... Desejei mil vezes poder voltar atrás, riscar as circunstâncias, fazer tudo de maneira diferente... e no entanto, não era possível... Não era possível não te ter ferido...
Compreendo-te tão bem... Sinto-as tantas vezes, essas dores que me mostraste... Tens tanta razão na desilusão que sentiste, na frustração, na revolta, na solidão, que só lamento que não me tenhas deixado tocar-te o coração, que não me tenha sido possível proteger-te num abraço que te fizesse acreditar que se eu pudesse voltar atrás, mudava tudo só para não permitir que sofresses, só para que acreditasses que tu também és a bússula que me norteia a vida.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Fraquezas...

Fico danada quando vou às lágrimas assim tão pertinho de ti, sem poder disfarçar como se disfarça um sorriso ou uma dor de cabeça. E vês-me vulnerável, ficas de repente frente a frente com a minha fraqueza, com a minha fragilidade, eu odiando-me, cheia de raiva de mim, a um toque da tua pele, a um segundo do teu perfume.

sábado, 8 de novembro de 2008


Hoje, por muitas razões, preciso de chorar. Pode ser no teu abraço?

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Saudade


Estou insuportável. Impaciente, irascível, mal humorada, agressiva, rabugenta, impertinente, teimosa... e chata. Respondo mal a torto e a direito, corro toda a gente a monossílabos, poupo estupidamente nos sorrisos. Hoje eu não me recomendo. Quando me questionam, culpo as hormonas, o tempo, o trabalho e até as previsões dos signos... Mas eu sei porquê.
O pior é que eu sei porquê.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Em casa


É como se fosse uma casa... a nossa casa.
Quero entrar devagarinho e em silêncio, soltar as palavras que darão corpo e rosto aos sonhos, que matarão a fome de ti... É como uma casa cuja chave só nós possuímos, onde só nós entramos, onde pousamos a saudade e nesta urgência um do outro, ficamos a partilhar emoções e a abrir a porta de um outro mundo, um mundo só nosso, onde nos perderemos mil vezes para mil vezes nos encontrarmos...
Ali, longe dos olhares indiscretos, só existe a nossa voz sussurrando loucuras sobre este improvável amor. Só existe o prazer de ser livre e viver presa, apenas aos gestos e às palavras das tuas mãos...

sábado, 1 de novembro de 2008

Da certeza

Eu nunca mais te perco.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Do amor


Quando a noite muito negra e gelada nos envolveu, não sentíamos frio porque as nossas mãos, numa meiga sinfonia, procuravam o caminho dos corpos quentes de desejo e as bocas ansiosas saboreavam apenas a felicidade suprema que é amar e ser amado... dar e receber... numa partilha única e perfeita como é a do amor.
A do nosso amor.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

NÓS

O meu sonho é como um cão vadio, desses que se nos colam à porta e ali ficam, de olhos meigos e submissos, implorando guarida. Já o enxotei, já o apedrejei, mas ele volta. Quando me apanha distraída, sempre que eu baixo a guarda, ele regressa, entra-me por um vazio qualquer do olhar e enrosca-se num novelo triste à porta do coração. Deixei de o alimentar, há muito tempo que não o abrigo no calor da memória, mas de nada adianta. Ele volta. Volta sempre.
Era um sonho bonito, cheio de cor e de luz, perfumado, com os pronomes, os adjectivos, os substantivos e os verbos conjugados na primeira pessoa do plural. No meu sonho todas as frases começavam por "NÓS". Agora, com o passar do tempo e com o silêncio, o meu sonho vai ficando mais baço, as cores e a luz esbatem-se, vai perdendo o aroma e os contornos, embrulhou-se no mutismo dócil e frio de quem espera apenas a machadada final. O meu sonho agonizante vai morrendo lentamente. Quando me sentir capaz, matá-lo-ei um dia destes, dar-lhe-ei o golpe de misericórdia quando tiver já feito outras viagens no mar da vida. Por agora, faço de conta que ele não existe e deixo-o enrolado na sua própria solidão, nada pedindo, nada exigindo em troca, a não ser que o deixe ficar aqui... Por agora finjo que não o vejo, que é só um cão vadio errando nas estradas do tempo, lutando pela sobrevivência, à procura de um dono que lhe invente um ninho.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Da solidão

O tempo escoa rápido indiferente ao meu sentir e o prazo esgota-se. Não consigo carregar este fardo que me verga os ombros, me parte a espinha das emoções. Pesado demais, ele rouba-me a lucidez e a capacidade de raciocínio, tolda-me a visão, impede-me de decidir. E no entanto é preciso decidir, rematar esta espera solitária onde voz nenhuma me aconselhará, onde braços nenhuns me acolherão, onde nenhum sorriso me dará o colo de que preciso, o abrigo onde a minha alma escorraçada por mil silêncios, possa serenar um pouco. Então é isto de que falam os loucos... afinal é este o rosto da solidão...
E eu deito a cabeça entre os braços e choro.

Hoje sinto-me profundamente só.

Da realidade

Vou minimizando cada vez mais tudo o que digo, vou reduzindo as frases, poupando as palavras, encurtando as sílabas, num esforço para que não me notem a presença, para não darem por mim.
E durante o dia tento não parar, evito a quietude para que a memória não me traga a dor de volta. Trabalho, limpo, lavo, aspiro, cozinho, arrumo, leio, cumpro... sou mãe, amiga, colega, filha, irmã, mulher e amante, num ritmo vertiginoso, de rajada, para não pensar...
Mas só sou feliz quando me sento aqui, sozinha, pouso as armas e dispo as máscaras... e neste silêncio fico a um minuto de ti.

Dos sonhos

É uma igrejinha simpática, caiada de branco, que fica num pequeno morro, abraçada pelas sombras do pinhal. Nunca lá fomos. E no entanto, recordo-me bem, disseste que um dia, quando eu estivesse boa e me sentisse mais forte, subiríamos lá os dois... Continuo a acreditar, sabes? Continuo a achar que faz sentido. Agora que já estou curada, sinto-me forte, capaz de enfrentar qualquer subida vertiginosa, escalar qualquer montanha, contigo do meu lado...
E ainda não me morreram todos os sonhos.

domingo, 26 de outubro de 2008

Eu compreendo-te meu amor. Partiste porque não querias ver-me morrer a cada dia, não querias que eu sofresse, sufocada pelo peso de uma decisão que tinhas a certeza que eu tomaria. Ver-me assim era uma dor maior do que a dor da despedida, adiar o inadiável era uma hipótese impensável... E então fizeste tu o papel dos deuses, trouxeste para o presente um futuro que adivinhavas... Cortaste as esperanças, as ilusões, pela raiz.
Agora só temos isto... apenas um presente negro, mortalmente negro, e um amanhã infinitamente vazio...

... sabias?

Esta noite não me apetece estar sem ti.

sábado, 25 de outubro de 2008

A sete chaves


Rebelde, o meu coração rasgou-me o peito, estilhaçou a vidraça do quarto e desobediente, voou a procurar-te. Parou na tua rua, viu a luz lá dentro e bateu à porta suavemente. Como eu dantes fazia. Quando abriste, apertou-se contra ti, a tremer de emoção e assim ficou sem dizer nada... Como eu dantes fazia. Depois beijou-te a boca com a urgência da saudade, sentiu-te o cheiro, tocou-te o corpo procurando-te o desejo, alimentou-se de ti... Como eu dantes fazia. Saciado, deixou-te só, depois do abraço apertado como cordas, forte como amarras... Depois das palavras sussurradas com voz quente... Como eu dantes fazia...
Quando o vi chegar, o meu coração ferido, esse teimoso indomável, não tive coragem de o castigar... Recolhi-o com carinho, tratei-lhe das feridas e fechei-o à chave de novo em mim, acorrentei-o no meu peito, ralhando-lhe baixinho, proibindo-o de voltar para ti.

Mas amo-te

Acabei de te escrever. Mais uma vez redigi um texto com mil cuidados, evitei as palavras dúbias, apaguei todas as metáforas que me afastassem de ti. Procurei a objectividade do sentir. Tentei abrir-te o meu coração num texto que não fosse lamechas, suprimi as lágrimas e a dor. Reli-o e gostei porque nele via-se a minha alma nua. Mas depois reparei que no fim de tudo, na despedida, dizia "Amo-te". Tinha-me esquecido que já não posso dizer "Amo-te" nunca mais, mas a verdade guiou-me os dedos... Com lágrimas nos olhos apaguei a palavra... e ainda não foi desta vez que te enviei a mensagem.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

De amor e desespero


Mandaste-me embora, de volta para um lugar de onde eu, sem saber, já tinha partido há muito... E de nada adianta... porque continuo enroscada no teu abraço, com o rosto pousado na curva do teu pescoço, sentindo-te o perfume da pele, as mãos brincando distraídas no teu peito, os dedos soltando-te o desejo urgente... Não se manda no coração, tens razão... E o meu, caprichoso e dominador, continua preso ao teu, continua a sonhar que o nosso amor apesar de improvável é possível, como de repente florir uma flor no asfalto negro e gelado de uma estrada.
É aqui que eu quero ficar e de nada adianta mandares-me embora. Porque o meu coração não vai...

O mesmo dia vazio

Todos os dias acordo com esperança e digo para mim própria: "Hoje é outro dia". E depois, quando me deito, faço-o com a sensação de que foi outra vez o mesmo dia.
Afinal, é sempre o mesmo dia.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Tu foste o sorriso mais livre que me aconteceu.

Não me procures. Encontra-me.

Se és feliz

Dou comigo preocupada contigo a cada instante.
Se conseguirás cumprir o prazo de entrega do trabalho, se tens descansado direito, se bebes café em excesso, se fumas compulsivamente, se te alimentas em condições, se andas à chuva, se te passou a tosse, se ligas o aquecedor para te protegeres do frio enquanto trabalhas, se te magoaste a jogar futebol, se tens visitado a tua mãe, se procuras os teus amigos, se dormes serenamente ou se acordas assustado e encharcado em suor, a meio de um qualquer pesadelo horrível onde grites o meu nome.
Bloqueei todos os meus contactos. Só tu me vês.
Mas continuas a não me ver. Só tu não me queres ver.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Cacos

Não consigo levantar-me. À minha volta, espalhados pelos chão, vejo os cacos de mim, o meu coração partido em mil pedaços que não consigo recuperar. Mataste tudo o que havia dentro da minha alma... Agora só encontro sombras, o vazio e o silêncio.
E no entanto, cá dentro, o resto do que sou, tudo o que ainda sou, continua a dizer baixinho o teu nome e a fazer ecoar um estribilho triste e doído: Para Sempre.
O teu nome em mim, Para Sempre.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

E agora?


Manhã clara, o sol doirando os passeios, a estrada, as tímidas árvores sobreviventes na lapela da rua. Pessoas cruzando os caminhos com a pressa de quem tem um rumo a cumprir. Só eu, parada, inerte, os olhos ansiosos buscando um qualquer objectivo que me atire os passos para a caminhada. Só eu sem norte, estacionada na berma, indiferente a qualquer sinal verde, a qualquer sentido proibido.
Só eu perdida em mim e à deriva, como gaivota na trovoada.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Sem ti

Partiste mais uma vez. Desta vez é para sempre.
Sem saberes, levaste-me todas as palavras e mataste o resto da minha alegria.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Contigo


Saíste para comprar cigarros e tomar café. Eu vou esperar-te, não quero perder um minuto desta noite doce... nem da tua companhia.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Lágrimas


Nunca to direi, nunca saberás. Nunca deixarei que descubras que não vacilaria, nunca hesitaria se fosse possível construir um universo novo contigo... Um mundo onde não entrasse mais ninguém, onde nos pertencessemos em exclusivo, onde fossemos só um do outro. Às vezes, quando te olho fixamente , perguntas-me em que penso... E não poderás saber nunca que tento descobrir-te a alma, tento saber se estou também em primeiro lugar no mundo dos teus afectos, que decisão tomarias, se eu te pedisse para ficares comigo...
E as lágrimas que deixo fugir envergonhada são apenas porque tenho muito medo da resposta, porque a conheço já sem nunca te ter perguntado...
E eu queria apenas, queria muito...! que a resposta que adivinho fosse outra.

A sós

Hoje porque me negaste a tua boca?
Só as tuas mãos estiveram entre as minhas, com candura, no mesmo bailado doce da pele que se procura... E, no entanto, sinto que não estiveste inteiramente comigo, que foi mais um dia que perdemos.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Desencontros

Tenho tanto medo de te encontrar que mesmo nunca te encontrando estás mais presente que todos os que vejo girar à minha volta.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Saudade


De ti.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Penso-te

O sono não vem, bailando distraído nas sombras do tecto. Atrasa-se, demora-se, esperando pela memória do teu sorriso que virá por fim trazer-me a paz.
Por isso te aguardo.
Por isso te penso.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Contigo

Chegámos à praia à hora das gaivotas. Havia imensas, debicando a areia ou simplesmente deitadas, numa calma que estranhei. Não se ouviam os costumeiros gritos que as caracterizam e tu disseste que elas estavam a apanhar sol, o que me acordou o sorriso... O perfume do mar era fortíssimo, entrando-nos pelos poros, fazendo perfeito o momento inesperado. E eu dediquei a minha atenção a observar-te enquanto te afastavas com os olhos cravados na areia cor de mel, procurando beijinhos. Estavas lindo, o vento morno despenteando-te com meiguice o cabelo macio e ainda molhado, o ar salgado corando-te suavemente as faces. E sorrias... Sorrias quando me estendeste o troféu - o único beijinho que tinhas encontrado. Ajudaste-me a descer e a subir as dunas íngremes, dando-me a mão, oferecendo-me o teu corpo para que eu não caísse. E eu senti-me segura, tão segura, contigo do meu lado! Tínhamos a cumplicidade do murmurar das ondas e da solidão daquela praia e sentados numa rocha, partilhámos cigarros do teu maço, conversas brandas e momentos de silêncio. Não havia nuvens, nada parecia ameaçar este amor tão estranho e improvável, que nos desafia as vontades, nos ludibria as emoções...
Quando mais tarde no centro da cidade encostei o carro para tu saíres, beijaste-me a boca com insolência e ousadia, demorando os teus lábios nos meus tempo de mais, para a multidão que nos rodeava em hora de ponta. Mas a tua audacidade, o teu beijo que me emudeceu, desatou-me um sorriso que me emoldurou a boca e o olhar enquanto conduzia o mais devagar possível até chegar a casa.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Um dia a menos

Hoje não te vi, não te falei, não ouvi a tua voz, não me escreveste... Não senti o teu perfume. Hoje não soube nada de ti.
E agora que a noite se agiganta, ao olhar para este dia que passou, é como se na realidade não o tivesse vivido... É como se não tivesse valido a pena.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Domingo

Odeio os domingos... Nunca te disse, pois não? Não sei que fazer a este estar sem ti, a esta ausência da tua pele, da tua voz... Tenho sempre a desconfortável sensação de viver pela metade, de existir partida ao meio, com uma parte de mim perdida nos ecos do teu sorriso, agarrada ao teu perfume... para tentar encontrar um sentido ao rumo dos meus passos.

domingo, 5 de outubro de 2008

Insónia

Hoje foi tão intenso estar nos teus braços que nem vou lutar quando a tua memória vier morder-me a madrugada.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Um lugar no coração

Quando saí do consultório médico, tinha o olhar turvo e um apertado nó na garganta impedia-me de respirar. Entrei no carro e foi o teu número que eu marquei, de imediato e sem hesitações... Foi a tua voz que eu quis ouvir antes de todas as outras vozes, foi no teu abraço que desejei serenar, foi a tua boca que me trouxe a calma. De mãos dadas, em frente ao mar gelado, perdemos o pôr-do-sol mas ganhamos o anoitecer. E foi aí, nesse momento, que percebi com clareza a solidez do teu amor nos lugares do meu coração. Foi nessa altura que entendi, talvez pela primeira vez, que se me pedisses para escolher, eu escolhia-te.
E tenho que te dizer isto tudo hoje... porque não agora?...
Afinal todas as histórias de amor têm que ser contadas um dia.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Amanhã talvez...

Será difícil imaginares, sequer sonhares, que ao longo do dia, enquanto trabalho, as minhas mãos, como seres independentes da minha vontade, amiúde vasculham a carteira com nervosismo disfarçado, revolvendo o caótico conteúdo para procurar o telemóvel. Quando o encontram, são os olhos que ansiosamente lêem o ecrã, à espera da frase tão desejada: "1 mensagem recebida". E sonho que é tua, que foste tu que num impulso saudoso, num incontrolável desejo, me digitaste palavras simples que me aquecem o coração, me incendeiam o sorriso. Sonho que és tu que vens assim iluminar o meu dia, encher-me os minutos de felicidade, beijar-me na frase simples espelhada no telefone. Mas o hábito de me mandares sms, perdeste-o há algum tempo... Talvez já não sintas necessidade de me falar a meio do dia... Porque é que então, teimosamente, continuo a sonhar? Porque continuo à espera de ti, assim, inusitadamente a meio do trabalho, porque continuo a desejar-te tanto a presença, porque continuo eu a precisar tanto da tua voz?
Se pudesses imaginar a desilusão doída que é voltar a guardar o tlm num inevitável desespero para não encarar o olhar mudo, trocista, quase desdenhoso do visor apagado que me traz por fim, de volta à realidade...
Mais um dia passou e tu não me desejaste a presença, mais um dia e eu não te apeteci...
Amanhã, talvez...

Por um minuto apenas

Hoje zangaste-te comigo, ralhaste-me, chamaste-me até irresponsável porque eu adiei a consulta médica para amanhã, só para poder estar contigo uma hora, que passou a voar. Mas sabes, eu não podia dizer-te, não tive coragem, diante daquele mar tão irado, de te confessar que preciso de todos os minutos contigo... que me são absolutamente indispensáveis para quando eu não te tiver do meu lado, para quando tu te fores de novo... E estar junto do teu peito, partilhar o teu respirar, são momentos de felicidade de que não abdico enquanto me for permitido ludibriar os deuses. Qualquer minuto contigo, por mais breve que seja, terá valido a pena.
Sempre.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

De repente...

E de repente, não mais que de repente, eis que tu surges, invadindo o café, quando eu já não esperava ou acreditava que o fizesses. De repente, já só existes tu, a encher todo o espaço, todo o momento, mesmo à distância de uma mesa, mesmo com os olhos cravados na folha do jornal que lês com duvidosa atenção. De repente, quase te sinto o cheiro tão familiar, quase te sinto a pele, a maciez do cabelo... De repente, estamos parados no meio da rua, os corpos tocando-se quase por acaso, perigosamente próximos, dolorosamente afastados, tu sorrindo-me e desafiando-me os sentidos com mil promessas no olhar tentador, a boca demorando-se no canto dos meus lábios no momento da despedida... De repente, tu apareces à porta da escola reclamando a minha presença junto do teu corpo... E de repente, no meio de uma pequena multidão, só lá estamos nós, só está o teu peito tão perto do meu, o teu peito onde eu gostaria de repousar a cabeça, os teus braços que eu queria que me envolvessem... De repente, o mundo vira sorrisos alegrando-me o intervalo, enchendo de luz e brilho a rotineira hora do lanche. De repente, surge o desejo de me demorar contigo, de prolongar os minutos tão escassos em que a vida se enche de cor, em que acredito que tudo é possível. De repente surpreendes-me no olhar descarado que me atiras, atiçando o desejo, provocando as emoções, despoletando em mim um turbilhão de sensações que eu deixo soltarem-se. De repente, tu és o meu amor que me vem ver, só a mim, e o mundo inteiro deixa de fazer sentido para me concentrar apenas na tua presença chicoteando-me o desejo...
De repente, surpreendes-me.
De repente, apeteces-me...
E o dia corre melhor.

Aqui

Aqui fico enfim a sós comigo. A sós contigo.
Aqui só quero respirar o teu perfume...